Quando minha mãe foi dormir, eu
peguei minha mochila e deixei um bilhete na mesa da cozinha, saí de casa sem
fazer nenhum barulho. A casa do Justin estava completamente escura, caminhei
até o fim da rua, esperando que ele estivesse ali, mas não estava, sentei na
calçada e mandei-o uma mensagem. Fiquei esperando por volta de dez minutos, até
ficar impaciente. Levantei e quando virei para ir procurá-lo, ele apareceu na
minha frente.
- Minha irmã estava tendo
pesadelos. – Justin estava abalado emocionalmente e isso era muito visível. –
Eu vou até a delegacia... – A expressão do Justin demonstrava muita raiva. –
Ele ameaçou minha irmã na porta da escola, eu vou acabar com ele.
- Vai contar tudo? – Perguntei e
Justin ficou me olhando.
- Tudo. – Ele respondeu. – Você
ainda quer vir comigo?
- Sim, eu vou. – Entrelacei
nossos dedos.
- Por que está levando uma
mochila? – Ele riu. – O que tem aí?
- Nada. – Afastei-me com
vergonha.
- Vamos. – Justin passou o braço
pelos meus ombros e nós seguimos em direção da delegacia. Justin fez algumas
piadinhas no caminho, o que significa que ele estava nervoso. Paramos em frente
a porta de entrada, Justin olhava seus pés, suas pernas tremiam, segurei suas
mãos.
- Você não tem culpa. – Beijei
sua bochecha. – Fique firme.
- Você me ajuda se eu gaguejar? –
Justin olhou em meus olhos.
- Sim. – Puxei-o e a porta
rangeu, fazendo os policiais nos olharem, um deles apontou a arma, mas abaixou
rapidamente, parecia estar assustado.
- Temos um depoimento para dar. –
Justin levantou as mãos.
- O que estão fazendo andando por
aí essa hora da noite? – Um policial se aproximou. – Me acompanhem. – Ele nos
levou para a sala do delegado.
- O delegado está vindo. – Assim
que ele disse, o delegado entrou.
- Justin? – Ele nos olhou. –
Você... Elizabeth, certo?
- Isso mesmo, Senhor. – Sorri.
- O que fazem aqui? – Ele parecia
surpreso. – Sentem-se.
- Delgado, eu preciso contar tudo
que eu sei.
- Você me disse que havia contado
tudo, no último depoimento.
- Sim, mas aconteceram muitas
coisas desde então. – Justin me olhou.
- Pode começar. – Ele disse
sorrindo.
- Bom... – Justin contou
exatamente tudo, até mesmo sobre ele ter ajudado o Bill a enterrar o corpo do
homem. Ele não gaguejou, não chorou, se manteve forte em todo o depoimento que
durou quase uma hora. O delegado ficou boquiaberto quando o Justin terminou. –
Ele está me esperando para me ameaçar em mais alguma coisa.
- Vamos mandar uma equipe com
você e trazemos Bill para esclarecer tudo isso. – O delegado parecia um pouco
abalado com tanto informação.
- Ele não pode desconfiar, ele
ameaçou minha irmãzinha. – Justin disse preocupado.
- Vamos fazer o seguinte... – O
delegado explicou o que o Justin devia fazer, me excluindo completamente do
plano.
- Eu quero ir. – Disse e os dois
me olharam.
- Você não vai, vamos te deixar
na sua casa. – O delegado não deixou nenhum espaço para que eu respondesse. – E
você, Justin, precisa voltar para cá e responder um interrogatório.
- Eu não vou sair daqui. – Disse
teimosa e cruzei os braços. – Eu quero ir.
- Elizabeth isso aqui não é
brincadeira, você não vai. – O delegado estava parecendo meu pai. – Vou chamar
uma equipe, venham comigo.
- Delegado, eu posso ajudar. –
Insisti.
- Eu já disse que não, você quer
que eu ligue para sua mãe?
- Pode ser. – Respondi sem me
preocupar com a autoridade dele.
- Amor. – Justin virou-se para
mim e segurou meu rosto. – Isso pode ser perigoso e você estar lá pode
atrapalhar as coisas.
- Tudo bem. – Afastei-me. – Eu
vou embora sozinha. – Tirei suas mãos de mim, mas Justin puxou minha cintura.
- Para Liz. – Ele pediu e me
abraçou. – Se eles me prenderem, você virá me visitar. – Percebi que estava sendo
egoísta, enquanto Justin estava sofrendo.
- Eles não vão te prender. –
Abracei-o forte.
- Vamos. – O delegado nos olhos.
– Vamos te deixar em casa Elizabeth.
- Eu vou sozinha, obrigada. – Olhei
Justin e ele me beijou.
- Nos vemos amanhã. – Ele disse separando
nossos lábios.
- Cuidado, por favor. – Acariciei
seu rosto, Justin beijou minha testa e se afastou. Acompanhei-o até o lado de
fora da delegacia e os vi se dividirem em dois carros. Acenei para o Justin, quando
ele abriu o vidro da porta de trás. Esperei o carro desaparecer e fiquei
encarando um carro da polícia. – Você não vai roubar um carro Elizabeth. –
Olhei em volta e vi uma bicicleta encostada perto da escada, corri até ela e
olhei para os lados, não havia ninguém ali. Peguei a bicicleta e sai correndo,
subi nela e pedalei o mais rápido que conseguia. Fazia muito tempo que eu não
andava de bicicleta, há alguns meses eu não tinha nem um pouco de fôlego para
fazer isso, vi as duas viaturas e diminui a velocidade, os segui com certa
distancia para que não me vissem. Espero
não me arrepender disso.
Vi que as viaturas diminuíram a
velocidade até parar, freei a bicicleta e quase cai. Justin desceu do carro e
foi caminhando sozinho para dentro do terreno com plantações que tinham metros
de comprimento. Deixei a bicicleta ali e corri para seguir o Justin. Vi Bill
com uma machado na mão e meu coração parou.
- POR QUE DEMOROU? – Bill gritou
enquanto Justin se aproximava, eu me escondi atrás de um arbusto.
- Eu te disse para ficar longe da
minha família. – Justin disse com raiva.
- Sua irmãzinha é uma criatura
amável, ela queria brincar comigo. – Bill ria, Justin fechou o punho e socou a
cara dele. – FICOU MALUCO? VOCÊ ACHA QUE EU ESTOU BRINCANDO? – Bill segurou o
machado com força.
- O que quer comigo? – Justin não
estava com medo.
- Vai me ajudar a matar um cara
que está me ameaçando.
- Eu não vou matar ninguém. –
Justin se afastou.
- Eu chamei o cara aqui, ele está
chegando e quando chegar, você vai bater com esse machado na cabeça dele.
- EU NÃO VOU MATAR NINGUÉM.
- Sua irmã é nova demais, Justin,
pense melhor. – Justin fechou os punhos outra vez.
- Chega disso, você não vai
continuar me ameaçando.
- Ficou atrevido? Tem certeza de
que vai bancar o forte agora? – Vi que Bill estava mexendo no bolso, ele tirou
uma arma e apontou para o Justin.
- NÃO. – Sai de trás do arbusto e
entrei na frente do Justin.
- O QUE ESTÁ FAZENDO AQUI? – Bill
abaixou a arma. – Vá embora Elizabeth.
- Você não devia... Lizzie,
droga, o que está fazendo aqui? – Justin sussurrou preocupado.
- Desculpe. – Virei. – Bill, fale
comigo. – Dei passo para frente, Justin segurou meu braço. – Tudo bem. –
Olhei-o.
- Não. – Justin não me soltou.
- Solte-a. – Bill levantou a arma
de novo. – Venha aqui Elizabeth.
- NÃO. – Justin me puxou e Bill
atirou para o alto.
- EU DISSE PARA SOLTÁ-LA. – Ele
gritou, Justin estava nervoso e ofegante, olhei para os olhos dele e fui me
afastando, olhei Bill e ele sorriu. – Você veio me ver?
- Eu vim te convencer a vir
comigo em um lugar, você aceita? – Tentei ficar calma e me aproximar devagar.
- Eu vou. – Ele sorria. – Mas
depois. – Ele voltou a ficar sério. – Preciso resolver algo, mas é rápido.
- Pode soltar essa arma? Está me
assustando. – Pedi e ele ficou encarando a arma em sua mão e colocou no chão.
- Desculpe, não queria te
assustar, meu amor. – Ele sorriu e abriu os braços, eu estava perto e com medo
de me arrepender dessa aproximação. Onde
estão os policiais? Fechei os olhos e respirei fundo.
- Lizzie. – Justin sussurrou. Dei
o último passo e fiquei de frente para o Bill, ele ainda sorria, ouvi alguns
estalos e galhos quebrando e depois ouvi um grito de um policial, virei e corri
para os braços do Justin, ele me abraçou.
- Nem pense nisso Bill. – O delegado
disse, haviam seis armas apontadas para ele, Bill me olhou.
- Você mentiu para mim, VOCÊ ME
ENGANOU. – Ele estava com muita raiva.
- Você precisa de ajuda. – Disse chorando,
Justin me abraçou e eu enfiei o rosto em seu peito, não queria olhar mais nada,
já tinha fingido ser forte por bastante tempo.
- VOCÊS ME PAGAM. – Bill gritou,
Justin me conduziu até uma das viaturas e eu disse para um dos policiais onde
deixei a bicicleta que roubei.
- Você ajudou bastante, eu acho
que eu iria perder a cabeça se você não chegasse. – Justin colocou o casaco
dele sobre meus ombros e encostou-se à porta do carro, onde eu estava sentada.
- Eu pensei que ele ia atirar em
você. – Disse ainda assustada com tudo. - O sorriso dele quando me viu, Justin,
Bill está perturbado, não é só raiva ou inveja, ele está doente.
- Eu vou procurar o pai dele
amanhã. – Justin estava abalado com isso.
- Justin, você precisa me
acompanhar. – O delegado disse. – E você também, garota. – Ele parecia bravo.
Coloquei as pernas para dentro do carro e dei espaço para o Justin entrar, ele
sentou ao meu lado e me abraçou.
- Minha heroína. – Justin beijou
minha bochecha.
- Eu estava te devendo essa. –
Sorri e me aconcheguei em seus braços.
Continua...
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